quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O sonho do trabalho remoto acabou?

Com a pandemia do Coronavírus (COVID-19), no início de 2020 até início de 2022, as empresas foram forçadas a adotar o home office na medida em que governos instituíam medidas de distanciamento social, quarentena e lockdown. Com isso, mesmo as empresas mais reticentes a este regime de trabalho foram forçadas a adotá-lo, o que exigiu adaptações tecnológicas, nos processos e na gestão de pessoas.


A Expectativa

Durante esse regime de quarentena forçado pela pandemia do Coronavírus, nos acostumamos a ouvir opiniões positivas sobre como as empresas mantiveram a sua produtividade com o pessoal trabalhando em home office - mesmo vindo de empresas e executivos que inicialmente eram contrários a tal flexibilização. Na época, discutimos e sonhávamos sobre qual seria o papel dos escritórios numa nova realidade.

As principais justificativas em defesa do regime de trabalho remoto giram em torno do ganho de produtividade, percebido durante esse período de pandemia, e o corte de custos fixos com a manutenção dos escritórios tradicionais.

Diversos executivos perceberam que é possível manter o mesmo nível de desempenho com seu time trabalhando remotamente, e é comum ouvir depoimentos de que a produtividade aumentou. As reuniões, por exemplo, começaram a ser mais objetivas, iniciando no horário certo, com menos conversas paralelas e, portanto, maior foco. No mundo online também não existe mais aquela situação de você chegar numa sala de reunião e ela se atrasar pois a reunião anterior ainda não acabou e a sala não foi liberada.

As empresas perceberam que podiam ter grande economia ao diminuir o espaço dos escritórios e ainda ganham com a possibilidade de contratar trabalhadores em locais de custo mais baixo, sem restrição geográfica. O Ministério da Economia, por exemplo, estimou que o trabalho remoto dos funcionários públicos federais representou uma economia de 1,4 bilhão de reais entre março de 2020 e junho de 2021. Essa estimativa considerou a redução em cinco tipos de despesas: diárias; passagens e locomoção; energia elétrica; água e esgoto; e cópias e reprodução de documentos.

Nesse cenário, esperava-se que os escritórios virassem espaços para reuniões, treinamentos, e não representem mais o local para o expediente de trabalho. Acreditava-se que os novos escritórios seriam apenas ambientes de convivência, um lugar de networking e de confraternização.

#SQN

A Realidade

Agora que a pandemia acabou e, na verdade, já caiu no esquecimento, estamos de volta a vida normal aonde a discussão sobre a adoção permanente do regime de home office está morrendo! Quando parecia que o regime de home office iria decolar, chegamos no pós-pandemia com um número relevante de empresas forçando a volta dos trabalhadores aos escritórios.

Toda a discussão sobre o futuro dos escritórios, os novos modelos de trabalho, etc, desapareceram junto com o Coronavírus. e, nesse "novo normal" que não tem nada de novo, os executivos estão forçando a volta ao regime de trabalho tradicional presencial.

Eu, particularmente, tenho visto muitas empresas e empresários a favor da volta do trabalho presencial - com algumas delas aceitando o trabalho híbrido para alguns casos específicos. Diversas grandes empresas americanas de tecnologia, que até então eram partidárias do trabalho remoto, repentinamente passaram a obrigar o retorno aos escritórios. Além das empresas do Elon Musk, da Google e da Amazon, por exemplo, desde o início de setembro de 2023 a Meta passou a exigir que seus funcionários compareçam aos escritórios pelo menos 3 vezes por semana.

Segundo estimativas da WFH Research, em julho de 2023, 59% dos funcionários voltaram a estar 100% no local de trabalho, enquanto 29% estão em um arranjo híbrido e 12% estão completamente remotos. Mesmo assim, os escritórios ainda estão apenas pela metade em comparação com a ocupação pré-pandemia. Dados de agosto de 2023 da consultoria Robert Half mostram um cenário ligeiramente diferente, mas aonde o trabalho remoto continua sendo uma raridade: aumentou para 33% o número de empresas que voltaram ao regime antigo, com 100% de presença, o modelo híbrido é a maioria e foi adotado por 59% das empresas, enquanto apenas 8% estão em esquema totalmente remoto.

Nos EUA, os escritórios com cubículos já voltaram à moda. Alguns podem ser mais simpáticos, outros podem parecer os cubículos retratados nas tirinhas do Dilbert. Mas o fato é que os escritórios estão voltando com força.

Justificativas não faltam para o retorno aos escritórios, e a maioria delas gira em torno do argumento falacioso de que os próprios funcionários preferem assim, para ter melhor interação entre as equipes. Na minha opinião? "Bullshit!". O que rege essa decisão (IMHO) é o pensamento arcaico, quase medieval, de que os funcionários devem estar à vista do chefe. Junte a isso a necessidade de ocupar os escritórios vazios (que, na verdade, poderiam ser desmontados e devolvidos, economizando milhões para as empresas). E, claro, existe a "preguiça" dos gestores por não buscar formas de manter os colaboradores remotos integrados, mesmo que virtualmente.

Na prática, as empresas que não forçaram a volta integral aos escritórios partiram para um modelo híbrido, permitindo a flexibilização do trabalho com um regime de, geralmente, 3 dias da semana no escritório e 2 em casa (algumas permitem apenas 1 dia de trabalho remoto por semana). E assim surgiu o termo: "TQQ", para quem vai ao escritório apenas nas "Terças, Quartas e Quintas-feiras".

De um lado, temos empresas que exigem o retorno aos escritórios, enquanto os funcionários querem manter a liberdade de trabalhar em casa. Mas, nesse cabo de guerra desleal, um lado sempre vence, né?

O impasse

Enquanto as empresas exigem o retorno aos seus escritórios, frequentemente ouvimos sobre o descontentamento dos funcionários que foram obrigados a deixar o regime de home office, onde muitas pessoas já tinham adaptado sua vida para essa rotina.

Essa estatística, do final de 2022, mostra isso: "Enquanto 82% dos tomadores de decisão nas empresas sentem que trazer os funcionários de volta aos escritórios é uma grande preocupação em 2023, 73% dos funcionários disseram que precisam de um bom motivo para abandonar seu horário flexível de trabalho remoto. Esses dados são de um relatório divulgado em 22 de setembro."


Existe solução mágica?

A verdade é que não existe um regime de trabalho único que vá atender a necessidade dos patrões e de todos os empregados. Algumas pessoas se sentem mais produtivas em casa, e outras no escritório. Os motivos podem ser vários, desde a falta de infra-estrutura em casa, presença de filhos ou parentes que atrapalhem a concentração, ou, por outro lado, muitas pessoas passam horas de deslocamento diário no trânsito das grandes cidades.

O ideal, na minha opinião, seria que as empresas adotassem um modelo híbrido, mas flexível, aonde os trabalhadores tivessem a liberdade de escolher o local de trabalho aonde se sentem mais produtivos (em casa, escritório ou híbrido).

Para saber mais:
PS: é interessante comentar que eu comecei a rascunhar esse artigo no início de 2022, quando a pandemia ainda estava acontecendo, mas com perspectiva de chegar ao fim. De lá para cá muita coisa mudou, e o que era uma expectativa da consolidação do trabalho remoto, acabou se tornando uma volta ao presencial, Muito do que eu havia rascunhado originalmente e algumas referências foram simplesmente descartadas do rascunho desse post, por estarem totalmente desatualizadas e erradas.

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