terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Retrospectiva 2024: O triste fim do Home Office

O cerco ao Home Office se acirra e, cada vez mais, fica difícil encontrar vagas de trabalho em regime 100% remoto. Em 2024 esse movimento foi frequente na maioria das empresas. Muitas adotaram o regime de 3x2 (3 dias no escritório e 2 dias trabalhando de casa), mas várias saíram desse modelo para exigir o retorno total ao escritório.

Quem perde é a indústria, a sociedade e a economia, que volta ao modelo de trabalho tradicional pré-pandemia.

Eu sou um defensor ferrenho do modelo de trabalho híbrido, no qual o trabalhador possa ter a opção de trabalhar da forma que se sentir melhor e for mais produtivo. Não existe solução ideal, pois há pessoas que preferem, verdadeiramente, trabalhar no escritório, ou apenas em casa, e há pessoas que gostam de mesclar os dois ambientes, trabalhando alguns dias presencialmente e outros em suas casas.

O fato é que a tecnologia permite o trabalho remoto, ou híbrido, mas a cultura do empresariado não.

Assim como "senhores de engenho moderno", eles precisam que os "colaboradores" estejam acorrentados ao escritório, sob sua vigília constante, e qualquer benefício que represente um pouco de liberdade e bem estar pessoal é imediatamente rechaçado. Afinal, eles passaram anos reforçando a cultura de que o trabalho é uma extensão da sua família e da sua vida social - criam termos para dizer que são da mesma família e enchem o escritório de "mimos" que, na verdade, só foram criados para aumentar a presença do funcionário sob o olhar do patrão.

Não se enganem: o restaurante ou lanchonete, a lavanderia, o vídeo-game e a mesa de bilhar estão lá só para garantir que você passe mais tempo no escritório. Não é preocupação com o seu bem estar. Tente juntar os colegas e ficar mais de 30 minutos batendo papo no cafezinho, jogando no vídeo-game da empresa, ou ler um livro de poesias enquanto espera a sua roupa lavar, e fique atento às reações a sua volta. Tente descobrir a reação dos gestores (normalmente pelas costas e de forma velada). Já cansei de ver diversas empresas que controlam a hora de entrada e de almoço dos funcionários, mas ao mesmo tempo criticam quem sai do escritório no horário equivalente a 8h de jornada. Tente sair do escritório as 18h, por uma semana seguida, e veja a reação do pessoal.

Os empresários focam no discurso de que os funcionários são mais felizes e produtivos no escritório, e que as pausas para o cafezinho aumentam a interação e produtividade. Normalmente esse executivo não perde de 2 a 4 horas diárias no deslocamento para o escritório, e muito menos em transporte público. Jogam os filhos aos cuidados de uma babá ou em uma escola cara, integral, trilingue.

A cereja do bolo: eu conto ou vocês contam que nós gostamos da pausa do cafezinho ou do cigarro justamente para enrolar no trabalho? Ninguém vai no cafezinho para discutir os KPIs do projeto de IAM.

O home office quebra esse modelo de subserviência ao empresariado, uma vez que permite o funcionário trabalhar em um ambiente em que a pessoa se sente verdadeiramente feliz e, principalmente, alinhando o bem estar pessoal e profissional. Não importa acompanhar o desempenho da equipe baseado nos resultados e metas, o que importa é ver a pessoa infeliz sentada na cadeira do escritório, sendo sua "produtividade" monitorado por meio de "horas bunda na cadeira", em vez de entregáveis em projetos.

Para saber mais:

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